10.4.14

Simões dispara “Fogo Sagrado” em galeria do MEP

A mais nova produção do artista, gestada em mais de um ano, em seu atelier, fincado na vila de Carananduba, na ilha de Mosqueiro, chega ao público, nesta quinta-feira, 10 de abril, a partir das 19h, na Galeria Antonio Parreiras, no MEP – Museu do Estado do Pará, com a apresentação do Grupo Quorum, acompanhado por um coral de 12 vozes. Entrada franca, todos convidados.

Toscano Simões, como é chamado, ainda que ele insista em assinar apenas Simões em suas obras, surge como artista na segunda metade dos anos 1970, mas é nos anos 1980 que ele se destaca, ao lado P.P. Conduru e Marinaldo Santos, entre outros artistas de sua geração.

Ao longo da carreira, ele acumulou prêmios. É um dos artistas mais premiados, por exemplo, no tradicional Salão Arte Pará. De 1976 até agora poderíamos contar quase 40 anos de trajetória dedicada às artes plásticas, mas não de forma contínua, pois durante este tempo, o suficiente para ter inscrito seu nome e reconhecido seu traço no inconsciente coletivo da arte paraense, tiveram hiatos em sua produção.

Simões, que já participou de dezenas de mostras coletivas, chega agora sua sétima exposição individual, oportunidade para toda uma geração recente, que o reconhece, em sua sempre genial performance criativa, mas que ainda o tem mais próximo enquanto criador da pizza de jambú, hoje estabelecida no cardápio de dez entre dez boas pizzarias de Belém, e um dos sócios do agora já lendário Bar Café Imaginário.

O espaço, que trazia na decoração, resquícios de obras de artistas que influenciam até hoje Simões, como Kandinsky, Miró, Mondrian, Galdi, nunca negou a veia artística de seu proprietário, mas que acabou roubando a cena do artista plástico, figurando, em diversas vezes, como um dos melhores lugares para se ouvir a boa música instrumental, ao vivo, na cidade.

O Imaginário, foi mais que um bar temático em artes visuais, que diversas vezes abrigou exposições do próprio PP Condurú e de novos artistas como Pauto Tarcísio Ponte Souza,entre outros.
Contraditório? Não. Era espaço aberto às artes todas. Cinema, música, plásticas, teatro, dança. De tudo isso se alimentava Simões, que exige entrega em tudo. Em noites memoráveis há quem lembre até hoje de algumas máximas bradadas por ele, como dizer “desagradem o público”, aos músicos que ali chegavam achando que teriam que fazer repertório de barzinho e violão.

E o empreendimento, que hoje faz falta no nosso cotidiano noturno, lhe teve a entrega, tanto que o deixaria longe de papéis, telas e tintas por dez anos, até ser fechado para abrir novos trabalhos, mostrados em  “Redesenho”, no ano de 2008, na extinta Casa Fundação Antar Rohit.

Um ano depois, mais novidades, Simões abre a mostra “Natureza Imaginária”, no espaço cultural Ministro Orlando Teixeira da Costa, no edifício-sede do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (TRT-8). O Café Imaginário encerra definitivamente e o artista buscou o isolamento.

Foi quando passou a morar em Mosqueiro, dando inicio a outro processo, para retomar a pintura e reconstruir a vida. Entre 2012 e 2013, durante um ano ou pouco mais que isso, Simões lutou para recuperar sua saúde, fragilizada por uma doença de fundo pulmonar. Tudo vencido, mudanças importantes tornaram possível o que será visto e a partir desta noite no MEP.

“Na verdade eu já queria voltar a pintar em tela depois de vir utilizando o papel. Foi quando encontrei o diretor do MEP, Sérgio Melo, que me fez o convite para expor, ocupando os três espaços desta galeria”, disse ele ontem enquanto afinava a luz da exposição na Galeria Antonio Parreiras.

“Após o convite, que imediatamente topei, comecei a trabalhar e acabei delineando algo que não estava definido em princípio, que é esta divisão temática, em três salas, trazendo como fio condutor o título da exposição, fogo sagrado, para mim uma referência à intensidade que a arte tem em relação à vida, o que exige do artista um compromisso existencial. É uma coisa como se fosse sagrada, não no sentido religioso, mas profano e mais próximo à imensidão da arte”, enfatizou.

As 28 obras, em formatos variados, estão distribuídas nas intituladas “Sala do Espírito do Tempo”, “Sala do Desassossego e das Paixões” e “Sala dos Sonhos e das Revoluções”. 

“A partir dessa ideia do sagrado eu fui concebendo a exposição, ela foi tomando forma e assim se dividiu.  Na primeira sala, que coloquei o nome de Espírito do Tempo. É uma tentativa poética de falar da arte no século 20, que é o meu século, onde tive a minha formação, influenciada por Picasso, Matisse, os Black Blocs, inseridos na exigência de mudança rápidas das coisas; o Andre Breton, que é o grande Papa do surrealismo, e fiz também uma homenagem a Tomie Othake, mais pela personalidade dela. 

A obra surgiu após ler uma entrevista dela que me pareceu tão lúdica e magnífica aos 100 anos de idade. Levantei da leitura e pintei um quadro de supetão, em sua homenagem”, enumera Simões.

Na primeira sala vemos as obras: “Estrela da Manhã, para André Breton”, “Cordas, Para Juan Miró”, “Dança”,  “Tomie Faz 100 Anos”, “Lápis Lazuli, Amarelo, Verde e Rosa”, “Uma Vela para Picasso”, “Uma poltrona para Matísse” e “Blacks Blocs”.

No segundo momento da exposição, na sala do “Desassossego e das Paixões” se reconhece um tanto do Simões anos 1980, 1990. Com pinturas que remetem formas à sexualidade, sempre presente na sua trajetória, trazendo temas sugestivos como “Ar”, “Mar ao mar”, “Ressuscita-me”, “Uma Trilogia Para o Amor e para o Desejo – Pele, Coração e A Tua Presença”; “Carne”, “A Obscenidade dos Outros” e “Melancolia”.  “Esta segunda sala adentra na questão da sexualidade, das sensualidades, do prazer e do lado obscuro do prazer”, diz.

Na terceira e última parte, na sala dos “Sonhos e das revoluções”, Simões pontua um olhar mais surrealistas.

"São os sonhos e os desejos de revolução impressos ali fazendo referência ao surrealismo, um movimento subversivo, que nos traz uma sensação de não conformismo e que se refere também às revoluções do século 20 mais marcantes como a revolução russa. No quadro ‘2017’ teço uma homenagem à data em que completará esta revolução completará 100 anos”, continua o artista.

Na sequencia: “A aventura começa nos corações dos navios”, “O sonho do ovo”, talvez a que mais se remeta visualmente ao surrealismo de todas as telas desta sala, “Possessão”, “Desenho Cego”, “Gaviões e Passarinhos I”, “Gaviões E Passarinhos II”, “O Fantasma da Liberdade”, alusão a Luís Buñuel, o surrealista do cinema espanhol; “O Triunfo da Luz” e “Utopia”.

“Fogo Cruzado”, ao mesmo tempo em que mostra a influência da arte do século 20, na trajetória do artista, também revela certas rupturas com a arte figurativa sempre marcante na sua produção. Agora, dando vazão ao abstracionismo, Simões se mostra em status de celebração à vida e grandes homenagens.

“É um novo momento em que rompi com aquela coisa mais figurativa que eu tinha, de pintar retratos e figuras humanas. Hoje eu enveredo por uma linguagem mais abstrata e experimental, buscando outros caminhos que eu ainda tenho que trilhar adiante, estou em um devir, ao que virá!”, diz.

“Todos eles são trabalhos abstratos, nada que seja narrativo, não há ninguém segurando uma bandeira, não é proselitismo político o que estou fazendo, quero falar dessas coisas com poesia. Não quero convencer ninguém a nada”, finaliza.

Lançamentos e bate papos - A exposição segue aberta até dia 10 de maio, um sábado. Na programação ainda está previsto o lançamento de um vídeo e do catálogo, que trará um texto inspiradíssimo de Armando Queiroz e de Sérgio melo, em meio a um bate papo sobre arte, com o artista e convidados. 

"Fogo Sagrado" foi construída também com o entusiasmo de vários colaboradores, amigos e admiradores do artista, como Sérgio Melo, diretor do MEP, Armando Queiros, Diretor do Sistema Integrado de Museus; Betty Dopazzo, Guaraci Jr. e Junior Braga, da Tv Cultura do Pará e Daniela Sequeira, da Fundação Rômulo Maiorana. A realização é do Governo do Estado do Pará por meio da Secretaria de Promoção Social e Secretaria de Cultura, com apoio da Rede Cultura de Comunicação e Fundação Rômulo Maiorana.

COLETIVAS DO ARTISTA

  • 1976: Galeria Aliança Francesa, Belém Pará.
  • 1979: Galeria UM,Belém Pará.
  • 1980: Segunda Amostra de Desenho Brasileiro, Curitupa-PR.
  • 1980: III Salão Nacional de Artes Plásticas, FUNART,Rio de Janeiro-RJ.
  • 1981: Galeria PROJECTA, São Paulo-SP.
  • 1982: Galeria ELF, Belém Pará.
  • 1982: IV Salão Nacional de Artes Plásticas/FUNARTE, Rio de Janeiro-RJ.
  • 1983: Galeria do Universitário, Belém Pará.
  • 1983: Galeria Theodoro Braga Belém Pará.
  • 1983: Arte Pará (Salão Liberal Belém Pará).
  • 1984: Arte Pará (Salão Liberal Belém Pará).
  • 1985: Arte Pará (Salão Liberal Belém Pará).
  • 1985: VIII 8º Salão de artes plásticas /FUNARTE Rio de Janeiro- RJ.
  • 1986: Artes Pará Salão Liberal Belém Pará.
  • 1986: IX Salão Nacional de Artes Plásticas/FUNARTE Rio de Janeiro-RJ.
  • 1987: Arte Pará Salão Liberal Belém Pará.
  • 1987: Arte Carnaval (Museu da UFPA), Belém Pará.
  • 1987: Arte e Paixão, Galeria Theodoro Braga Belém Pará.
  • 1987: Salão de Verão (Salão Liberal), Belém Pará.
  • 1988: Salão Paranaense de Artes Plásticas, Curitiba-PR.
  • 1988:11Artistas Paraenses, mostra itinerante internacional da UFPA.
  • 1988: Novas Fronteiras da Arte do Pará, embaixada da França Brasilia-DF.
  • 1990: “Onde as onças bebe água”, Museu da UFPA Pará.
  • 1990: Artes Pará Salão Liberal Belém Pará.
  • 1990:” Chuva”, Galeria Romulo Maiorana Belém Pará.


INDIVIDUAIS

  • 1982: Galeria Angelus Belém Pará
  • 1985: Galeria Theodoro Braga Belém Pará.
  • 1987: Galeria Theodoro Braga Belém Pará.
  • 1995: Galeria Graça Landeira, UNAMA, Belém Pará.
  • 2008: Casa Artar Rohit Belém Pará.
  • 2009: Galeria do Tribunal do Trabalho da 8º região Belém Pará.


PREMIAÇÕES

  • 1980: Premio aquisição, III Salão Nacional de Artes Plasticas FUNERTE Rio de Janeiro-RJ.
  • 1983: Menção Honrosa do Arte Pará Belém Pará.
  • 1984: 3º Lugar do Arte Pará Belém Pará.
  • 1985: 1º Lugar do Arte Pará Belém Pará.
  • 1987: 1º Lugar no concurso “Em busca de talentos regionais”, Telepará Belém Pará.
  • 1989: 1º Lugar no primeiro “Salão de agosto da Prefeitura Municipal de Belém”, Belém Pará.
  • 1989: Premio Aquisição VIII Salão Arte-Pará, Belém Pará.
  • 1990: 1º premio no Salão de Pequenos Formatos da UNAMA, Belém Pará.



Serviço
Vernissage da exposição “Fogo Sagrado”. Nesta quinta, dia 10 de abril, às 19h, na Galeria Antônio Parreiras, do Museu do Estado do Pará. A mostra ficará aberta ao público até o dia 10 de maio, de terça a domingo, de 10 às 18h e, aos finais de semana, de 10h às 14h.

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